sábado, 10 de abril de 2010

DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

Caros amigos,

Para compreender bem a linguagem literária, um passeio pelos fundamentos teóricos ajuda bastante, uma vez que amplia o nosso olhar sobre as diversas dimensões da leitura e da escrita.

De maneira prática, vejamos as diferenças entre linguagem denotativa e conotativa.

A denotação encerra todos os conceitos, os objetos aos quais os conceitos são atribuídos. Já a conotação é a vastidão de sentidos empregados nestes objetos, partindo da compreensão do sujeito, do contexto e do campo semântico que o idioma culturalmente e historicamente possibilita.

Lembremos da imortal Capitu, personagem de Dom Casmurro, obra de Machado de Assis, publicada em 1900, embora a data da edição seja de 1899.

Para Bentinho, Capitu tinha "olhos de ressaca". O que seriam esses "olhos de ressaca"? Se pensarmos na palavra ressaca, como uma gíria do nosso tempo e da nossa região, logo concluiremos grosseiramente: Capitu tinha olhar de uma mulher bêbada. Contudo, se debruçarmos a atenção para o contexto do sudeste brasileiro em fim do século XIX e início do XX, esta nossa conclusão cairá por terra. 
E estendendo a leitura da obra um pouco mais, verificamos: "Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca."

Então, todos os sentidos de um mar em ressaca, tempestivo, revolto, são atribuídos ao olhar de Capitu. Uma linda metáfora que tem a sua glória ao se dizer “...uma força que arrastava para dentro...”. 

Sentimos como o Bentinho era sacudido por aquele olhar, como ficava fascinado, atado e impotente diante o magnetismo e a beleza daquele olhar que o tragava para a alma de Capitu ao mesmo tempo em que sentia a sua própria alma a tragando para si.

Vejam quantos sentidos, quantas sensações, quanta conotação é possível construir ao se dizer apenas: “olhos de ressaca”. Percebam o quão fantástico é o simples aprendizado de distinguir denotação e conotação! A nossa percepção se alarga nos horizontes da leitura e a nossa escrita consegue desbravar “mares nunca dantes navegados” do nosso idioma.
Para compreender melhor as diferenças, vejamos:


DENOTAÇÃO
  • Sentido restrito;
  • Foco no objeto;
  • Predominância na linguagem objetiva;
  • Uso da 3ª pessoa do singular ou plural;
  • Uma interpretação;
  • Significados “do dicionário”, original;
  • Não depende do contexto;
  • Impessoalismo.


CONOTAÇÃO

  • Sentido amplo;
  • Foco no sujeito;
  • Predominância na linguagem subjetiva;
  • Uso da 1ª pessoa do singular ou plural;
  • Possibilidade de diversas interpretações;
  • Sentidos figurados – uso de figuras de linguagem;
  • Depende do contexto;
  • Pessoalismo.


Vejamos a tirinha a seguir:




Como podemos perceber, em cada quadrinho, a palavra "siga" tem um sentido diferente, o que torna-se evidente com as imagens bem humoradas. O que possibilita essa diversidade de sentido? O próprio uso denotativo e conotativo da nossa linguagem.

Agora, aproveitem este aprendizado e apliquem na leitura e na construção das suas diversas ecritas.

Saudações Literárias

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